domingo, 26 de abril de 2020

Resenha Documentário COL. CANCROCÍTRICO

Resenha Documentário COLETIVO CANCROCÍTRICO - O ANTI-LARANJAS

Resenha Documentário Coletivo Cancrocítrico 
O Anti-Laranjas

Se não me engano era o segundo semestre de 1991, quando o carteiro chegou e gritou o meu nome com uma carta na mão. Correspondência esta provinda de Londrina, em seu interior um exemplar do número 16 do zine Coletivo Cancrocítrico. Uma folha A4, dobrada ao meio, 4 páginas com escritos anti-militar, questionamento a televisão, poesias, hqs, entre outras coisas.
Neste mesmo ano, junto a um amigo já havia criado e lançado o primeiro e único número do Shit Noise Zine, na pequena, monótona e pacata cidade de Agudos, interior paulista. Creio ter enviado uma cópia aos responsáveis pelo Cancrocítrico (sendo que o nome sempre que me vem à memória é o do Cientista, talvez pelas poucas cartas que troquei com este coletivo, e este era sempre o nome do correspondente).
Quase trinta anos depois, fico feliz em assistir ao documentário “Coletivo Cancrocítrico: O anti-laranjas”, iniciativa do mesmo Cientista, mencionado acima. Uma produção bem estruturada e organizada, trazendo ao presente o espírito daquela época, através dos depoimentos e relatos daqueles que vivenciaram aqueles dias e momentos de nascer e desenrolar do movimento punk londrinense, suas expectativas, movimentações e criações. Para narrar esta história, o zine Coletivo Cancrocítrico, uma “simples” publicação, papel sulfite dobrado e xerocado é o referencial para apresentar este universo que o circundeia e o potencial que esta publicação trouxe para aqueles jovens, auxiliando no desenvolver de seu protagonismo
No decorrer do vídeo, através da exibição multimodal, em que imagens estáticas (fotos, imagens de zines e da imprensa oficial), junto a presença de indivíduos que participaram ou colaboraram direta e indiretamente para a manutenção e circulação da referida publicação e existência do coletivo narrando suas lembranças punks e contraculturais do período, somado a trilha sonora com bandas e sons que estavam presentes naquele contexto, nos são exibidos a origem e história do Movimento Punk de Londrina, os vínculos de amizade e solidariedade (locais e distantes), através de resgate de imagens de vídeos mostrando as apresentações musicais, comportamentos e mobilizações políticas libertárias e contraculturais e encontros organizados para tratarem de assuntos referente ao movimento.   A importância dos correios, hoje (infelizmente) uma instituição falida, mas que naquele momento era nossa forma de contato e rede social, conectando tod@s pessoas envolvidas com o cenário underground e zineiro, nisto vale mencionar o comentário de Anita Costa Prado (zineira e poetisa) e Paula Prata Vandenbrande (editora do zine Absurdo), sobre estas trocas de correspondências, que estava além da troca de cartas, eram amizades que surgiam e se alimentavam, pelas trocas de informações, distribuições de zines até o encontro físico, sustentando amizades que se mantém até os dias atuais, numa época em que não havia o mundo virtual, as ações analógicas mantinham os vínculos de amizade menos frios e mais colaborativos. A influência do ideário anarquista colaborando para a elaboração de conceitos sobre os princípios e posturas que os punks em Londrina deveriam ter, influenciando nas reflexões e resultando nos escritos para o Cancrocítrico. Influência ideológica esta que também irá colaborar com a formação intelectual daqueles jovens, seja para a formação acadêmica, nas relações sociais e mesmo familiares. A liberdade de criação, edição, a participação coletiva, a entradas e saídas de membros, co-participação, ou seja, a colaboração externa, os diversos temas abordados no zine, contando com ideias até então pouco discutidos entre os jovens, como ecologia e questão de gênero. As transformações estéticas nas páginas do Coletivo Cancrocítrico, marcando a relação e adaptar de seus editores com os recursos tecnológicos que começavam a ter acesso, além de apresentar a evolução criativa dos envolvidos. Até a presença no universo acadêmico, seja como documento auxiliar ou mesmo tema de TCC.
Enfim um excelente documentário, com uma narrativa construída por Luis Eduardo (Cientista) através da coleta da memória dos envolvidos e assim sendo um valioso documento, produzido assim como os zines impressos, agora um ”vídeo zine” com a metodologia do Faça Você Mesmo, e a preservação de nossa história no esquema “Nós por Nós Mesmos”. Um excelente vídeo que deve ser prestigiado para os que aqui agora chegaram, num meio totalmente digitalizado, com grande facilidade de acesso a informações e contra-informações, conhecer a trajetória da militância underground e libertária é fundamental para compreender seu legado;  recomendado a todas pessoas zineiras, pesquisadoras, curiosas, leitoras, enfim, para tod@s aquelas que já tiveram contato com o Universo Paralelo dos Fanzines, e porque não, os que o desconhecem, para que possam perceber e reconhecer o potencial criativo e protagonista que os zines e os movimentos juvenis exercem sobre estes indivíduos e assim contribui para a formação de mentes sadias e construtivas visando um mundo possível para tod@s.  

  
Para assistir clique no link abaixo e dê play: